Theresa Payton, uma referência mundial no que toca à segurança cibernética, esteve presente no evento IDC Directions e deu uma entrevista sobre as últimas ameaças digitais e falou sobre a IA, como um problema ou solução e a ligação entre privacidade e segurança. Teresa foi a primeira mulher a chegar ao cargo de chefia do Departamento de Informação da Casa Branca, e ocupou essa posição de 2006 a 2008.
A atualidade da (in)segurança cibernética
Theresa nunca pensou que, em 2023 “a segurança de uma empresa ainda pudesse depender de alguém clicar no link errado”. Desde que começou a trabalhar em segurança cibernética que muita coisa mudou, atualmente temos “o ChatGPT, temos robôs autónomos a trabalhar em armazéns, aconteceu tanta transformação na tecnologia”, usando as suas palavras. No entanto, apesar de tantas mudanças há muita coisa que se mantém como “os humanos, a tentar viver, trabalhar, brincar, aproveitar a vida, continuam a ser alvo de cibercriminosos e vigaristas.” Portanto, e pegando nas suas palavras: mesmo com todo o avanço tecnológico que temos observado, ao longo dos anos, há coisas que continuam iguais.
A evolução do cibercrime
Nesta entrevista, Theresa Payton afirma ainda que acha “interessante ver como à medida que a tecnologia avança os cibercriminosos também evoluem” e, quando questionada se o cibercrime avançava mais rápido do que a tecnologia, a sua resposta foi um redondo sim, justificando a sua resposta com o que temos visto a acontecer, pois “à medida que as empresas, os governos, os negócios vão fazendo um trabalho melhor a proteger as suas infra-estruturas e os seus dados, os cibercriminosos não se limitam a dizer “isto ficou mesmo difícil! Se calhar devia passar a ser uma boa pessoa“, fazem exatamente o oposto, que se traduz em inovação, “porque querem continuar nessa vida de crime”.
Como os empresários vêem esta onda de ameaças digitais
Theresa Payton começa por responder a esta questão dizendo que fala com vários membros dos governos e empresários, regularmente, sobre esta questão e o que recolhe destas conversas é uma preocupação muito grande. Mas, não sendo uma ameaça palpável, é muitas vezes deixada de lado. O que acaba por ser “um grande desafio para os executivos saber se estão a concentrar-se nos desafios certos”. Teresa acrescenta ainda que “é aqui que deve estar a prioridade e o foco e tem de ser uma discussão virada para os negócios em vez de uma discussão sobre o medo, incerteza e dúvida.”
A difícil luta contra os cibercriminosos
Como não sabemos quem são os cibercriminosos, como e onde pretendem atacar, torna a luta muito mais difícil, uma vez que “quando pensamos em ataque e defesa, seguimos um guião. E esse guião – é como no futebol, estudamos a tática do adversário, vemos vídeos dele a jogar, e ajustamos a nossa estratégia à estratégia do rival. Mas quando não sabemos quem é o nosso rival, quando este está constantemente a mudar de tática, qual o guião? É muito complicado.”.
O desenvolvimento da IA é uma ameaça ou uma solução?
Para Theresa o desenvolvimento da Inteligência Artificial faz parte da solução mas alerta para a necessidade de “fazer as coisas bem – e tem de ser muito interativo, temos de ser muito flexíveis e dinâmicos. O meu receio é que os líderes mundiais não sejam dinâmicos e não consigam estabelecer estruturas capazes de nos proteger e guiar (…) adoro o trabalho que a União Europeia está a fazer. Estão a liderar a marcha para todos.”
Theresa concluiu a entrevista a dizer que, apesar das múltiplas previsões que costuma fazer, quanto ao futuro da tecnologia, acrescenta o seu desagrado e com o rumo que tem levado, ao dizer: “achei que a esta altura já seríamos capazes de proteger muito melhor os nossos historiais digitais. Continuamos dependentes de palavras-passe e de não clicarmos no link errado. Não imaginei que a esta altura do campeonato, o maior obstáculo entre um cibercriminoso e o acesso a uma organização ainda fosse a você ou eu. (…) Temos o ChatGPT, robôs inteligentes, mas não clique no link. Tudo depende de si. Está nas suas mãos que a nossa empresa não seja atacada e deixada totalmente offline. É ridículo.”
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